domingo, 16 de fevereiro de 2014

A Rapariga que Roubava Livros: olhar para o horror a partir de um lugar seguro.


Ontem fui ver este filme e gostei. Não sendo extraordinário (muito longe disso), é um filme agradável e particularmente adequado para uma sessão de cinema familiar de fim de semana, como foi o caso. Trata-se de uma história algo previsível, mas bem contada. Tem imagens fortes, a fotografia das cenas de interiores é excelente e o guarda-roupa é verosímil.
Mas o mais interessante do filme é o facto de nos mostrar como foi vivido o pesadelo do nazismo no dia a dia dos alemães. Mais propriamente, o nazismo do ponto de vista de uma família alemã que com ele não se identificava. Ou, como é referido no filme, por “pessoas que queriam continuar a comportar-se como pessoas”. Neste aspecto, o filme faz lembrar “O Rapaz do Pijama às Riscas”, em que o pior do nazismo é contado do ponto de vista da ingenuidade de duas crianças, e também “A Vida é Bela”, onde um pai faz de tudo para que a dolorosa realidade não perturbe a ingenuidade do seu filho. Também em “A Rapariga que Roubava Livros” assistimos ao esforço para olharmos para o horror do real de um ponto de vista protetor, de um lugar emocionalmente seguro, como um abrigo. Ou uma cave.
Mas não há ilusões que perdurem eternamente, nem “pessoas que vivam para sempre”, como afirma o narrador, a Morte. E, quanto a isso, o filme mostra-nos que não é possível mantermo-nos para sempre afastados da realidade que nos choca, ainda que nos esforcemos muito. Um dia ela bater-nos-á à porta, robusta e incontornável, e não quererá saber se estamos, ou não, preparados para a enfrentar.
Finalmente, o filme é também um elogio ao poder redentor das palavras e da literatura. Nada de novo, claro, mas sempre emocionante para quem ama os livros.



Tudo (ou quase) sobre o filme pode ser encontrado aqui.

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