terça-feira, 28 de fevereiro de 2012

Bibliofilmoteca n.º 3: O Livro de Areia, de Jorge Luis Borges


Recordo ter ouvido essas figuras ao pai do meu pai. Tu e eu somos poetas; vou salvar-te. Agora não definimos cada facto que inflama o nosso canto; cifrámo-lo numa só palavra que é a Palavra.
"Respondi-lhe:
"- Não pude ouvi-la. Peço-te que me digas qual é.
"Vacilou uns instantes e respondeu:
"- Jurei não revelá-la. Aliás, ninguém pode ensinar nada. Deves procurá-la sozinho.

Jorge Luis Borges in O Livro de Areia

domingo, 26 de fevereiro de 2012

Efemérides: o dia em que o jazz nasceu


O jazz nasceu oficialmente a 26 de fevereiro de 1917, quando foi editado o disco Livery Stable Blues pelos Original Dixieland Jass Band. Há quem defenda que a designação jazz provém deste jass... Veja mais sobre a origem da palavra aqui.
Para finalizar esta efeméride, fique com a música original:

domingo, 12 de fevereiro de 2012

"Professor, pode sugerir-me um bom livro para ler?"


Esta é uma das perguntas que mais gosto que me façam. Quem me pede que lhe indique livros que adoro tem, desde logo, o meu agradecimento (é amoroso pedir a alguém que fale do que ama). Mas também tem de estar preparado para outra coisa: é que quem fala do que ama talvez não se cale tão cedo. Posto isto, vamos lá então ao post.

O pedido surgiu, espontâneo, numa das aulas da última sexta. O pretexto foi o contrato de leitura na disciplina de Português, mas rapidamente os horizontes foram muito para  além disso. Colocaram-me algumas condicionantes: livros em língua portuguesa, não muito extensos e agradáveis de ler. De autores portugueses ou não. 
Logo ali, de imediato, lembrei-me de alguns. Mas esclareci também as minhas condições: livros de que gostasse particularmente e que, ou tenha lido no secundário quando tinha a idade deles ou que possam marcar positivamente um jovem adolescente à descoberta do mundo e do melhor de si mesmo.
Apresento hoje as duas primeiras sugestões.


O Que Diz Molero
Edição/reimpressão: 2007
Páginas: 172
Editor: Bertrand Editora
ISBN: 9789722515689

Dinis Machado
Com duas dezenas de edições em Portugal, o livro alcançou ainda um sucesso retumbante em França e no Brasil, onde foi também adaptado para teatro (em cena durante mais de quatro anos), e vai ter em breve uma versão cinematográfica. Pequenas coisas que são suficientes para encher de satisfação Dinis Machado, que responde também pelo nome de Dennis McShade, autor de três policiais que fizeram história e de um quarto que será publicado no ano que vem, assinalando os 40 anos da criação de Peter Maynard, um assassino com preocupações filosóficas. Ler mais aqui.



A Pomba
Edição/reimpressão: 1998
Páginas: 92
Editor: Editorial Presença
ISBN: 9789722319911
Coleção: Aura

Patrick Süskind 

O primeiro romance de Patrick Süskind foi o livro «O Perfume» que imediatamente o celebrizou como autor e que continua a ser um livro de culto para sucessivas camadas de leitores atraídos por uma verdadeira obra-prima de ficção. Em "A Pomba", o porteiro Jonathan, figura central do livro, que partilha a sua monótona existência entre a mansarda que habita e o banco onde trabalha, vê de um momento para o outro a sua vida abalada quando um pássaro ferido tomba a seus pés. A partir deste "fait-divers", feito do encontro entre um homem e um pássaro ferido, Patrick Süskind constrói uma pequena maravilha.
Uma leitura da obra pode ser lida aqui.

Para a semana voltarei com mais sugestões.

segunda-feira, 6 de fevereiro de 2012

Homenagem a François Truffaut: "A Mulher do Lado" ou do amor trágico



Se fosse vivo, François Truffaut faria hoje 80 anos. Homenageamos a sua obra com a cena final de um dos seus filmes de que mais gostamos: "A Mulher do Lado" (La femme d'à côté, 1981). 

Mais informações sobre o realizador e a sua obra podem ser lidas aqui.

sábado, 4 de fevereiro de 2012

3 sugestões a propósito do tema dos direitos dos animais: um livro, um texto e uma música

Sugestão 1: o livro


FERRY, Luc, GERMÉ, Claudine, Des Animaux et des Hommes, Paris, Librairie Génerale Française, 1994

Os autores convidam-nos a revisitar textos do pensamento ocidental, do séc. XV ao séc. XX, reunidos numa extensa e diversificada antologia sobre o tema do estatuto moral e jurídico dos animais. Os excertos disponibilizados, em número superior a cento e cinquenta, foram recolhidos das obras de Descartes, Hobbes, Espinosa, Locke, Kant, Rousseau, Bentham, Schopenhauer, Mill e Nietzsche, mas também de Victor Hugo e Claude Bernard, entre outros, entre mais de duzentos autores das áreas da filosofia, literatura ou ciência. O livro inclui, ainda, legislação sobre o estatuto dos animais e a sua proteção jurídica em vários países (França, Grã-Bretanha, Alemanha, EUA, Espanha e Portugal, por exemplo), a legislação nazi sobre proteção animal e caça e, também, a declaração universal dos direitos dos animais de 1978.
Trata-se de um livro muito útil e interessante para quem pretender conhecer e comparar diferentes pontos de vista sobre o tema de um ponto de vista histórico. Não há tradução portuguesa.

Sugestão 2: o texto

Um dos primeiros textos filosóficos que li, apaixonadamente, ainda adolescente. E um dos que me fizeram descobrir que queria estudar filosofia.

“Observe-se um rebanho que pasta; ignora o que foi ontem e o que é hoje. Volteia, retouça, repousa, rumina, agita-se de manhã à noite, dia após dia, ligado ao seu prazer e à sua dor, ao impulso do instante, sem melancolia nem saciedade. É duro para o homem ver isso, porque se orgulha da sua humanidade quando se compara com o animal, cuja felicidade entretanto inveja. Efectivamente, ele deseja viver como o animal, sem saciedade nem dor, mas, ao querê-lo, não quer como o animal. ‘Porque é que não me falas da tua felicidade? Porque é que te limitas a olhar-me?’. O animal gostaria de responder: ‘É que eu esqueço exactamente aquilo que queria dizer’. Até mesmo esta resposta é afogada no esquecimento, e cala-se. É a vez do homem se admirar.”

in NIETZSCHE, Friedrich, Considerações Intempestivas, Lisboa, Editorial Presença, 1976, pp. 105

Sugestão 3: a música

The Wolf, de Eddie Vedder, incluída na banda sonora do filme Into The Wild (O Lado Selvagem), de Sean Penn.