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sexta-feira, 23 de outubro de 2015

Que sorte ter nos meus olhos essa melancólica praça quase deserta...

Giovanni Bellini, A Festa dos Deuses, c. 1514, obra concluída pelo seu discípulo Ticiano em  1529
(National Galley of Art, Washington, EUA)

A BELEZA

«Chovera. Que sorte ter nos meus olhos essa melancólica praça quase deserta, os oiros glaucos de Bellini espalhados pelas lajes molhadas e os verdes todos, do esmeralda ao musgo, escurecidos pela noite que se avista já de algumas mansardas. Porque a beleza, ou é esta entrega a quem de súbito a descobre, ou se esconde, cruel, a quem faz da sua procura uma perseguição de carniceiro».

Eugénio de Andrade, in "Vertentes do Olhar"



domingo, 20 de setembro de 2015

Viva o novo ano e a insatisfação!


George Tooker, Landscape with Figures (1966)


Alunas, alunos e colegas:

Desejo-vos um excelente ano recheado de insatisfação!


“A insatisfação é o primeiro passo para o progresso de um homem ou de uma nação.”

“O progresso não é senão a realização das utopias.”

Oscar Wilde



P. S.- Só para os mais ousados (os que fazem da insatisfação uma pele que há em si), clicar aqui.

domingo, 3 de maio de 2015

dia da mãe


A capa de um livro lido há muitos anos e de que guardo ternas memórias.

E também uma música, um poema, uma pintura e um filme.

Todos têm a ver com as mães. Mas esta seleção é só para a minha.

Espero que tenha um grande dia, mamã :)

(E uma noite descansada
Uma noite feliz
Não caia da cama abaixo
Não parta o nariz)




"Mãe!

Mãe!
Vem ouvir a minha cabeça a contar histórias ricas que ainda não viajei! Traze tinta encarnada para escrever estas coisas! Tinta cor de sangue, sangue verdadeiro, encarnado!

Mãe! passa a tua mão pela minha cabeça!
Eu ainda não fiz viagens e a minha cabeça não se lembra senão de viagens!
Eu vou viajar. Tenho sede! Eu prometo saber viajar.

Quando voltar é para subir os degraus da tua casa, um por um. Eu vou aprender de cor os degraus da nossa casa. Depois venho sentar-me ao teu lado. Tu a coseres e eu a contar-te as minhas viagens, aquelas que eu viajei, tão parecidas com as que não viajei, escritas ambas com as mesmas palavras.

Mãe! ata as tuas mãos às minhas e dá um nó-cego muito apertado! Eu quero ser qualquer coisa da nossa casa. Como a mesa. Eu também quero ter um feitio que sirva exactamente para a nossa casa, como a mesa.

Mãe! passa a tua mão pela minha cabeça!
Quando passas a tua mão na minha cabeça é tudo tão verdade!"


José de Almada Negreiros in A invenção do Dia Claro



Pablo Picasso. Mãe e filho, 1921.



sexta-feira, 14 de novembro de 2014

Joan Miró, Quino e Manoel de Barros

Joan Miró, O Carnaval do Arlequim, óleo sobre tela, 1924/25



Esta semana recebi em casa este livro que comprara online. Um dia depois, Manoel de Barros faleceu. O poeta brasileiro que dizia não ser da informática, mas da “invencionática”. Que pensava renovar o homem “usando borboletas”, um “apanhador de desperdícios” para quem a poesia “tem que chegar ao grau de brinquedo para ser séria”.

Escolhi este poema de Manoel de Barros para vos desejar um bom fim de semana.

Brinquemos, então ;)

O apanhador de desperdícios

Uso a palavra para compor meus silêncios.

Não gosto das palavras

fatigadas de informar.

Dou mais respeito 
às que vivem de barriga no chão

tipo água pedra sapo.

Entendo bem o sotaque das águas

Dou respeito às coisas desimportantes

e aos seres desimportantes.

Prezo insetos mais que aviões.

Prezo a velocidade

das tartarugas mais que a dos mísseis.

Tenho em mim um atraso de nascença.

Eu fui aparelhado

para gostar de passarinhos.

Tenho abundância de ser feliz por isso.

Meu quintal é maior do que o mundo.

Sou um apanhador de desperdícios:

Amo os restos

como as boas moscas.
Queria que a minha voz tivesse um formato

de canto.

Porque eu não sou da informática:
eu sou da invencionática.

Só uso a palavra para compor meus silêncios.

(Poema retirado daqui).