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domingo, 3 de maio de 2015

dia da mãe


A capa de um livro lido há muitos anos e de que guardo ternas memórias.

E também uma música, um poema, uma pintura e um filme.

Todos têm a ver com as mães. Mas esta seleção é só para a minha.

Espero que tenha um grande dia, mamã :)

(E uma noite descansada
Uma noite feliz
Não caia da cama abaixo
Não parta o nariz)




"Mãe!

Mãe!
Vem ouvir a minha cabeça a contar histórias ricas que ainda não viajei! Traze tinta encarnada para escrever estas coisas! Tinta cor de sangue, sangue verdadeiro, encarnado!

Mãe! passa a tua mão pela minha cabeça!
Eu ainda não fiz viagens e a minha cabeça não se lembra senão de viagens!
Eu vou viajar. Tenho sede! Eu prometo saber viajar.

Quando voltar é para subir os degraus da tua casa, um por um. Eu vou aprender de cor os degraus da nossa casa. Depois venho sentar-me ao teu lado. Tu a coseres e eu a contar-te as minhas viagens, aquelas que eu viajei, tão parecidas com as que não viajei, escritas ambas com as mesmas palavras.

Mãe! ata as tuas mãos às minhas e dá um nó-cego muito apertado! Eu quero ser qualquer coisa da nossa casa. Como a mesa. Eu também quero ter um feitio que sirva exactamente para a nossa casa, como a mesa.

Mãe! passa a tua mão pela minha cabeça!
Quando passas a tua mão na minha cabeça é tudo tão verdade!"


José de Almada Negreiros in A invenção do Dia Claro



Pablo Picasso. Mãe e filho, 1921.



quinta-feira, 16 de abril de 2015

"Sometimes the wrong train will get you to the right station", in A Lancheira, de Ritesh Batra


The Lunchbox (A Lancheira, Índia/França/Alemanha, 2013), de Ritesh Batra




(Por vezes, escolher os filmes em dvd como quem escolhe uma rua desconhecida na cidade pode proporcionar surpresas extraordinárias).


sexta-feira, 19 de setembro de 2014

Post de boas-vindas.

Ilustração de Afonso Cruz

Desejo um excelente ano às minhas alunas e aos meus alunos: 10º G, 10º O, 10º N, 11º I e 11º M.
Aqui ficam três sugestões made in Portugal: uma ilustração de Afonso Cruz, um filme de Regina Pessoa e uma música de Frankie Chavez.
Divirtam-se!



domingo, 27 de julho de 2014

Férias de Verão


(Cena dobrada em Francês. Até gostei mais assim...)

A filosofia vai ao cinema encerra para férias. 
É tempo de Verão: "Quand le temps va et vient/On ne pense à rien".
Boas férias!

Le Temps de L'amour

Françoise Hardy

C'est le temps de l'amour
Le temps des copains
Et de l'aventure
Quand le temps va et vient
On ne pense à rien
Malgré ses blessures

Car le temps de l'amour
C'est long et c'est court
Ça dure toujours
On s'en souvient

On se dit qu'à vingt ans
On est le roi du monde
Et qu'éternellement
Il y aura dans nos yeux
Tout le ciel bleu

C'est le temps de l'amour
Le temps des copains
Et de l'aventure
Quand le temps va et vient
On ne pense à rien
Malgré ses blessures

Car le temps de l'amour
Ça vous met au cœur
Beaucoup de chaleur
Et de bonheur

Un beau jour c'est l'amour
Et le cœur bat plus vite
Car la vie suit son cours
Et l'on est tout heureux
D'être amoureux

C'est le temps de l'amour
Le temps des copains
Et de l'aventure
Quand le temps va et vient
On ne pense à rien
Malgré ses blessures

Car le temps de l'amour
C'est long et c'est court
Ça dure toujours
On s'en souvient


sexta-feira, 13 de junho de 2014

Poderá o ato de chicotear alguém ser moralmente certo? Um artigo de crítica filosófica da autoria de João Viana

João Viana, o autor


Poderá o ato de chicotear alguém ser moralmente certo?

por
João Viana

Para realizar este artigo, baseei-me no filme 12 Anos Escravo, que vi recentemente. Este filme relata a história de Solomon Northup, um homem negro livre que é enganado, sequestrado e vendido como escravo no estado de Louisiana, onde a escravatura existe com uma força tal que é vista como algo bastante natural. É, portanto, uma biografia “de um dos tempos mais negros da História do Homem”.

Este filme chamou-me à atenção, principalmente por causa de uma parte que se destaca. Numa das cenas, o “Mestre” (proprietário dos escravos) ordena a Platt – Solomon recebera este nome de forma a esconder a sua verdadeira identidade – que chicoteie Patsey (uma escrava) com toda a força, até se verem os ossos, ou, se não o fizesse, mataria todos os “pretos” que visse à sua frente. Platt, então, pega no chicote e dá-lhe as chicotadas. Aqui, o problema filosófico é evidente: será que Platt fez bem em chicotear Patsey? Ou deveria ter-se negado a chicoteá-la, condenando assim à morte muitos dos que com ele serviam aquele “Mestre”?

É comum, e racionalmente compreensível, pensar-se que o ato de chicotear alguém é moralmente errado. No entanto, também é normal pensar-se que provocar a morte a alguém é igualmente um ato moralmente incorreto.

Platt teve de escolher entre chicotear uma pessoa com toda a força e negar-se a chicoteá-la e, assim, provocar a morte a várias pessoas. Encontra-se aqui, portanto, um dilema, em que parece que nenhuma das opções é acertada. Contudo, é importante analisarmos este dilema filosoficamente, de modo a tirarmos conclusões acerca da escolha que se aproxima mais de uma ação moralmente correta.
Podemos analisar esta situação sob um ponto de vista deontológico e sob um ponto de vista utilitarista.

John Stuart Mill, defensor de uma ética utilitarista, afirma que devemos agir de forma a promover a felicidade geral, ou seja, de forma a maximizar o bem – e, neste caso, arrisco-me a dizer que se adequa mais o termo “minimizar o mal”, por razões que me parecem óbvias. A ideia principal de Stuart Mill é que a ação moralmente certa é a que tem consequências mais valiosas, pelo que é importante ponderar os prejuízos e os benefícios que a sua realização traz a todos os indivíduos. No caso do dilema de Platt, segundo a perspetiva utilitarista de Stuart Mill, a escolha moralmente certa seria chicotear Patsey, pois a morte de várias pessoas seria uma consequência pior que o sofrimento de uma pessoa, ou mesmo que a morte desta, e, portanto, Platt agiu bem.

Já Immanuel Kant, defensor da ética deontológica, afirma que devemos agir por dever, existindo leis morais universais que devem ser cumpridas independentemente das consequências. Este filósofo confere uma grande importância às intenções por detrás das ações. Segundo Kant, “uma vontade é boa não por causa dos seus efeitos ou do que consegue alcançar, nem por ser apropriada para alcançar um dado fim; é boa unicamente através da sua vontade, isto é, é boa em si”. Assim, segundo a perspetiva deontológica de Kant, as ações moralmente certas são aquelas em que há uma intenção ou vontade boa – em relação à ação em si e nunca em relação aos efeitos da mesma ação, isto é, ao fim pretendido com a realização de tal ação – e que são motivadas pelo sentido do dever. Qualquer forma de tortura, pelo sofrimento que provoca, é encarada por Kant como uma ação contrária ao dever, na qual a intenção não pode ser boa, sendo, portanto, uma ação moralmente errada (independentemente das circunstâncias em que é realizada). Assim, podemos concluir que, segundo esta perspetiva, Platt agiu mal ao chicotear Patsey, pois agiu contrariamente ao dever.

Depois de analisado o problema filosófico em questão sob dois pontos de vista tão distintos, resta-nos tirar as nossas conclusões acerca da escolha que Platt deveria ter tomado. Mas estas conclusões são obviamente subjetivas, pelo que cada um terá a sua própria opinião sobre este assunto.

Pessoalmente, sou da opinião de que Platt agiu corretamente, apesar de considerar o ato de chicotear alguém em si mesmo desprezível e de uma grande falta de senso moral. No entanto, analisando bem o problema em questão, parece-me que o facto de se salvarem várias vidas justifica essa tortura aplicada somente a uma pessoa. É, de facto, de admitir seriamente que nenhuma das duas opções consideradas aparenta ser moralmente correta, mas, tentando hierarquizar essas duas opções, olhando às consequências das ações, parece-me óbvio que a tortura aplicada somente a uma pessoa, mesmo que resulte em morte, se sobrepõe, por não apresentar consequências tão más como a morte de múltiplas pessoas. Por este motivo, considero que a escolha que Platt fez corresponde à ação que se aproxima mais de uma ação moralmente certa.