Karl Marx |
Karl
Marx: a moral é uma mentira inventada pelos poderosos
Marx (1818-1883) não gostava da
filosofia tradicional. Escreveu-o com toda a clareza: “Tudo o que os filósofos fizeram foi interpretar o mundo de diferentes maneiras, mas o que importa
é transformá-lo.” Por aqui se
pode ver que as suas preocupações eram essencialmente práticas. Não lhe
interessava o homem abstracto de que
falavam os filósofos, mas as pessoas concretas que ele pretendia ajudar. Toda a
teoria marxista se orienta neste sentido: libertar os oprimidos, criar um mundo
mais humano. A intenção, como se vê, não é nova; os meios preconizados para a
realizar são, no entanto, francamente originais. Vejamos porquê.
Dizemos muitas vezes
que todos os homens são iguais. Mas se olharmos para a realidade com um pouco
de atenção, verificamos que tal não acontece. Qual é a origem das desigualdades?
Marx não tem dúvidas: a propriedade privada. Tudo mudou quando o primeiro homem
disse: isto é meu! Nesse dia nasceram
as classes sociais. O critério para classificar os homens passou a ser o “ter”.
Possuir propriedade privada, no início a terra, depois essencialmente a
indústria, passou a ser para o homem o objetivo principal. A história da humanidade
é o palco desta “luta de classes” e o resultado, afirmou Marx baseando-se no
seu tempo, é a profunda desigualdade existente entre uma minoria de poderosos,
a burguesia, e a esmagadora legião de oprimidos, os trabalhadores.
O raciocínio de Marx
é o seguinte: se a origem das desigualdades é a propriedade privada, “corta-se
o mal pela raiz” abolindo a propriedade privada. Ora, como os que a detêm não a
vão dar “de mão beijada”, a única solução é a maioria unir-se e tomá-la pela
força, ou seja, fazendo uma Revolução. Esta violência, não sendo desejável, era
para Marx inevitável. Os fins justificam
os meios, pensava ele, porque o fim a atingir é uma sociedade mais justa,
sem pobres nem ricos, sem propriedade privada nem classes, em que as terras, as
fábricas e todos os meios de produção sejam pertença comum de todos os homens.
Numa palavra, o Comunismo.
Mas, se isso é
realmente assim, por que motivos os trabalhadores não fazem nada para alterar a
situação? — poder-se-ia perguntar. É aqui que entra a questão da moral. As
pessoas não fazem nada porque julgam que isso é errado. Como foram educadas no
sentido de respeitar as normas morais vigentes, pensam que elas existem
precisamente para serem respeitadas. Marx diz que isso é uma mentira, mas uma
mentira tão bem “contada”, que até parece que é verdade. A isso chama ele
ideologia. Na sua opinião, a moral surgiu como tentativa de legitimar a
propriedade privada e o poder dela decorrente. Quem a inventou? Aqueles a quem
as proibições morais são favoráveis: a classe dominante. Por exemplo: a quem convém
a regra “não roubarás!” ? Aos que
nada possuem não é de certeza...
A moral surgiu,
assim, como uma “arma ideológica” ao
serviço da classe dominante. E para que as classes dominadas não se
apercebessem da sua verdadeira função, a moral foi sendo apresentada como algo
imparcial, válida para todos os homens e sancionada por Deus. Marx, que era
ateu, via na religião um aliado poderoso da moral: a esperança na vida eterna
“adormeceria” os trabalhadores, levá-los-ia a aceitar passivamente os costumes
e as normas, de tal modo que já não se
importariam com a sua deplorável situação real. É esse o sentido da frase “a religião é o ópio do povo”.
Em resumo, segundo
Karl Marx, a moral não nasce com o homem: ela é uma invenção, e uma invenção
enganadora. A sua função é negativa: serve
para convencer os desfavorecidos de que a desigualdade social é uma coisa
natural. Uma vez desmascarada, o seu carácter de classe vem ao de cima. Na
sociedade sem classes por que lutou, este tipo de moral subjugadora seria
substituída por valores humanistas, em que o ser humano valesse por aquilo que
é e não por aquilo que tem ou deixa de ter.
Assim pensava Karl
Marx. Como é sabido, não foi exatamente isso que foi feito em nome do “Marxismo”...
A par da economia e,
naturalmente, da política, a arte foi um dos domínios da criação humana que foi
fortemente influenciado pelas ideias de Marx. Escolhi um exemplo retirado da
música (e um exemplo português) para ilustrar o carácter engagé (comprometido politicamente) de um estilo de música que, por
esse motivo, é conhecido como “música de intervenção”.
Chamo especialmente a
atenção para a letra:
A
paz, o pão
habitação
saúde,
educação
Só
há liberdade a sério quando houver
Liberdade
de mudar e decidir
quando
pertencer ao povo o que o povo produzir
Senhoras e senhores,
Sérgio Godinho:
Olá Carlos,
ResponderEliminarNão fiquei surpreendido porque as minhas expectativas em relação ao que escreves, de forma mais ou menos complexa, são sempre altas.
Apesar de não ter sido um mau aluno a Filosofia, gostaria muito que os meus professores tivessem tido a clarividência e a iniciativa de acabar com o velho cliché de que a Filosofia é chata. Pelo contrário, aulas de intermináveis exposições em tom monocórdico não ajudaram muito à coisa....
Parabéns e obrigado pela partilha.
Venham daí o Freud e o Nietzche
Um abraço,
Pedro Moreira
Ainda bem que gostaste, Pedro. Sabe bem alargar os debates a estas "tertúlias virtuais" ;)
ResponderEliminarUm abraço também para ti.
CC
yozgat
ResponderEliminaradana
adıyaman
afyon
aksaray
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