![]() |
O jovem autor, aluno na Escola Secundária Manuel Teixeira Gomes, em Portimão |
Deus existe?
por
Adriano
Martins
A existência de Deus é um tema que
desde sempre tem gerado muita polémica. O que se sabe é que ainda não existem
factos claros que provem a sua existência ou inexistência. Por isso, até aos
dias de hoje muita gente tem tentado apurar respostas para este problema
filosófico.
Para realizar este texto baseei-me numa
música chamada “Revelação”, de Valete, em que o rapper português nos mostra a sua perspectiva sobre este tema (não
acredita na existência de Deus), simulando um diálogo entre um ateu, que
apresenta argumentos contra a existência de Deus, e Deus, que apresenta
argumentos a favor da sua própria existência.
O ateu apresenta argumentos como o
“desprezo” que Deus dá a muitos que acreditam n’ Ele e seguem os seus mandamentos
e, ainda, a existência de mal no mundo e na história da humanidade, fazendo
referência a grandes massacres (2ª guerra mundial e guerra civil de Ruanda) e à
fome e doenças existentes no mundo. Já Deus, “tentando vender o seu peixe”, diz
que deu livre arbítrio aos Homens e que não pode interferir na vida das
pessoas, apenas pode fazer o julgamento final e decidir quem merece o inferno e
quem merece o paraíso.
Os argumentos do ateu encaixam na
perfeição com a tese da existência do mal, que refere que a existência de mal
no mundo é indiscutível. E, como Deus é supostamente omnisciente, omnipresente,
omnipotente e sumamente bom, Ele teria tudo para evitar a existência desses
males. Isso é dito na música da seguinte forma: “Do que vale saberes tudo se continuamos inconscientes/Do que vale
poderes tudo se nós sempre vemos sofrimento/Do que vale veres tudo se nunca te
fazes presente”. No início da música há ainda uma introdução em que uma voz
feminina diz que a sua mãe sempre fora uma boa mulher (ia à igreja, ajudava mesmo
aqueles que necessitavam menos do que ela, etc.) e acabou por morrer na miséria.
E essa mesma voz faz a pergunta: “Que mal
fez a minha mãe a Deus?”. A
crítica e a pergunta feita por esta voz feminina têm o mesmo fundamento que um
texto de Voltaire sobre o terramoto de 1755, ou seja, questiona o facto de
acontecerem coisas más a pessoas que seguem rigorosamente Deus. Segundo o
argumento do mal, o ateu parece ter razão na sua opinião acerca da existência
de Deus.
Voltando à música, Deus fundamenta a
sua resposta ao ateu na tese do livre arbítrio, que defende que Deus deu aos
Homens a liberdade para agirem por si próprios, evitando que os humanos sejam
uns meros robôs. Por isso, se os seres humanos escolherem o mal em detrimento
do bem Deus não deve ser responsabilizado por isso, mas sim os Homens. Valete
aborda esta responsabilização dos Homens, colocando Deus a dizer: “Eu não posso interferir, apenas assisto e
analiso/Só no julgamento final é que eu corrijo e decido”. Ou seja, evoca a
existência de um “tribunal” em que Deus é o “juiz” e julga cada pessoa e decide
se essa pessoa merece o inferno ou o paraíso.
Filosoficamente, continua a ser difícil
dizer qual é a resposta ao título deste texto, pois sempre que surge um
argumento convincente acerca da existência de Deus surge um contra argumento
que nos faz questionar o argumento inicial. Pessoalmente, sou da opinião que
este Deus não existe (embora acredite em algo para além de nós, humanos),
porque mesmo que ele tivesse dado livre arbítrio aos Homens e que estes fossem
responsáveis por muitos males, isso não justificaria a existência do mal
natural. Se Deus fosse sumamente bom, ele evitaria esse mal; logo, não existe
ou não é sumamente bom.
(A letra da música "Revelação", de Valete, pode ser consultada aqui)