quinta-feira, 9 de dezembro de 2010

Bibliofilmoteca: n.º 1


A bibliofilmoteca é o baú de onde irei retirando, de vez em quando, os filmes e livros de que na altura me apetece falar. Esta é a edição n.º 1.


Título:
O que Sócrates diria a Woody Allen — Cinema e Filosofia
Autor:  Juan Antonio Rivera

Edição original:
Lo que Sócrates diría a Woody Allen, Madrid, Espasa, 2003
Edição portuguesa: Edições Tenacitas, Coimbra, 2006
Tradução: Ana Doolin     Nº de páginas: 340

Citação:

«— Pode aprender-se mais filosofia vendo cinema do que lendo livros?
Não diria tanto, mas aprendi mais com muitos destes filmes do que ao ler alguns dos manuais mais respeitados.»
Juan Antonio Rivera


Juan Antonio Rivera nasceu em Madrid em 1958 e é professor de filosofia do ensino secundário em Barcelona. Tem vários livros editados e participa regularmente em diferentes revistas de filosofia, com destaque para a prestigiada «Claves de Razón Práctica». O que Sócrates diria a Woody Allen é a sua primeira obra sobre cinema e filosofia, premiada com o Prémio Espasa de Ensaio 2003. Do júri deste importante prémio faz parte Fernando Savater, de quem Rivera se considera admirador e cuja influência assume com orgulho, como se depreende do estilo claro e acessível que caracteriza a escrita de ambos.
Rivera define este livro como «uma introdução à filosofia para amantes de cinema e, simultaneamente, uma introdução ao cinema para amantes de filosofia». A estratégia por si utilizada consiste em apresentar e discutir os problemas, as teorias e os argumentos filosóficos a partir do cinema. Este estilo de divulgação da filosofia ao grande público insere-se numa tendência recente que tem vindo a conquistar cada vez mais adeptos, quer entre os professores de filosofia do ensino secundário, quer, inclusive, entre professores catedráticos de conceituadas universidades dos E.U.A., Inglaterra e Espanha, principalmente. Refiram-se, por exemplo, os já clássicos Taking the red pill. Science, Philosophy and Religion in The Matrix, de G. Yeffeth e The Matrix and Philosophy. Welcome to the desert of the real, de W. Irwin; ou, ainda, Philosophy goes to the movies. An introduction to philosophy, de Christopher Falzon e Matrix. Filosofía y Cine, de Concepcíon Pérez García, este último vencedor em Espanha do Prémio Aula 2006, que distingue trabalhos originais da autoria de professores. A última «aventura» nesta área é a colecção americana «Popular Culture and Philosophy» (os autores, sob a coordenação do catedrático W. Irwin, são maioritariamente professores universitários de filosofia), cujas obras relacionam a filosofia não apenas com o cinema, mas também com as séries de televisão, a banda desenhada, a literatura ou a música. Alguns dos mais recentes livros desta colecção têm os títulos sugestivos de A família Soprano e a filosofia (Mato, logo existo), Seinfeld e a filosofia, Super-heróis e a filosofia, Os Simpsons e a filosofia, Harry Potter e a filosofia ou O Hip-Hop e a filosofia...
              O que Sócrates diria a Woody Allen é essencialmente uma iniciação à ética. A maior parte dos temas/problemas pertence ao património perene da filosofia: o amor, a morte, a felicidade, a racionalidade, o mal, a acrasia, o acaso, a formação do gosto moral, entre outros. Mas há também teorias filosóficas que são convocadas, ilustradas e analisadas de modo por vezes surpreeendente. A alegoria da caverna de Platão, a hipótese do génio maligno de Descartes e a máquina de experiências de Robert Nozick são disso exemplo. Quanto aos 25 filmes seleccionados pelo autor, importa dizer duas coisas. A primeira é que o principal critério de escolha foi a sua relevância filosófica, e só depois a sua qualidade estética. A segunda é que, apesar disso, o autor nos presenteia com uma criteriosa selecção de filmes, desde clássicos a filmes mais recentes, que têm o condão de criar em nós, leitores, uma fascinante «reminiscência» cinematográfica. Além disso, desperta-nos um renovado interesse por filmes já vistos e quase esquecidos ou, ainda, por aqueles filmes nunca antes vistos cuja vontade de ver já tinha sido esquecida. A título de exemplo: Casablanca, Blade Runner, Citizen Kane, Desafio Total, Há Lodo no Cais, Matrix, Laranja Mecânica, Hannah e as suas Irmãs, Truman Show, O Efeito Mariposa, Dr. Estranho Amor, Parque Jurássico, etc., etc.
            O que Sócrates diria a Woody Allen pode ser uma autêntica lufada de ar fresco para os professores de filosofia. A sua leitura constituirá, decerto, uma brainstorming fascinante e imprevisível, um laboratório sempre renovado de ideias e estratégias inesgotáveis. Imagine-se, por exemplo, esta espécie de trailer filosófico: como distinguir a realidade da ilusão? Será possível que um ser mau e poderoso me esteja a fazer sentir e pensar que é real o que, afinal, não passa de uma mentira perversa? Uma sugestão para os alunos: coloquem-se no papel de Neo e Truman e… pensem!
            O que Sócrates diria a Woody Allen é um desafio que coloca frente a frente o mais antigo dos saberes com a mais recente das artes. Atreva-se e aceite-o: take the red pill

5 comentários:

  1. boa noite stor não encontrei aquilo do robert no seu site, se pudesse me dar o link agratecia :D. não cheguei a desejar-lhe um feliz natal por isso stor, UM FELIZ NATAL E UM BOM ANO NOVO :)

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  2. Bom Natal e Bom Ano também para ti, Bianca. Mandei-te um mail na altura com o link, mas deixo aqui outra vez. Vai a

    http://saladecinemaesmtg.blogspot.com/

    Bjs

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  3. Olá
    Desafio aceite. Vou já oferecê-lo a mim própria, pelo Natal. :)
    Ontem comprei o "Zelig", na FNAC. Só o vi uma vez, há 30 anos. Estou desejosa de o rever para confirmar, ou não, a imagem fantástica com que fiquei em jovem.
    Ontem deu um muito interessante na tv: A verdade e só a verdade. Uma história sobre a importância dos princípios e a capacidade que (só) alguns de nós têm para os compreender e lutar por eles.
    Se já não nos "virmos", Bom Natal para si.
    Joana

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  4. Olá Joana

    Zelig, Manhattan e Stardust Memories são os meus filmes preferidos de Woody Allen. Penso que Zelig é uma obra prima que não foi suficientemente reconhecida.
    Quanto ao filme na tv, deixou-me curioso. Vou tentar descobri-lo.
    Ainda quanto ao Woody Allen, há um livro interessantíssimo que pertence a uma colecção invulgar. Vou fazer um post sobre ele para si e para todos os que gostam de filosofia e do cinema de Woody Allen.
    Bom Natal e um excelente 2011 também para si.

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  5. Obrigada.Fico a aguardar.
    Que seja um 2011 especial para cinéfilos. :-)

    Joana

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