A bibliofilmoteca é o baú de onde irei retirando, de vez em quando, os filmes e livros de que na altura me apetece falar. Esta é a edição n.º 1.
Título:
O que Sócrates diria a Woody Allen — Cinema e Filosofia
Autor: Juan Antonio Rivera
Edição original:
Lo que Sócrates diría a Woody Allen, Madrid, Espasa, 2003
Edição portuguesa: Edições Tenacitas, Coimbra, 2006
Tradução: Ana Doolin Nº de páginas: 340
Citação:
«— Pode aprender-se mais filosofia vendo cinema do que lendo livros?
— Não diria tanto, mas aprendi mais com muitos destes filmes do que ao ler alguns dos manuais mais respeitados.»
Juan Antonio Rivera
Juan Antonio Rivera nasceu em Madrid em 1958 e é professor de filosofia do ensino secundário em Barcelona. Tem vários livros editados e participa regularmente em diferentes revistas de filosofia, com destaque para a prestigiada «Claves de Razón Práctica». O que Sócrates diria a Woody Allen é a sua primeira obra sobre cinema e filosofia, premiada com o Prémio Espasa de Ensaio 2003. Do júri deste importante prémio faz parte Fernando Savater, de quem Rivera se considera admirador e cuja influência assume com orgulho, como se depreende do estilo claro e acessível que caracteriza a escrita de ambos.
Rivera define este livro como «uma introdução à filosofia para amantes de cinema e, simultaneamente, uma introdução ao cinema para amantes de filosofia». A estratégia por si utilizada consiste em apresentar e discutir os problemas, as teorias e os argumentos filosóficos a partir do cinema. Este estilo de divulgação da filosofia ao grande público insere-se numa tendência recente que tem vindo a conquistar cada vez mais adeptos, quer entre os professores de filosofia do ensino secundário, quer, inclusive, entre professores catedráticos de conceituadas universidades dos E.U.A., Inglaterra e Espanha, principalmente. Refiram-se, por exemplo, os já clássicos Taking the red pill. Science, Philosophy and Religion in The Matrix, de G. Yeffeth e The Matrix and Philosophy. Welcome to the desert of the real, de W. Irwin; ou, ainda, Philosophy goes to the movies. An introduction to philosophy, de Christopher Falzon e Matrix. Filosofía y Cine, de Concepcíon Pérez García, este último vencedor em Espanha do Prémio Aula 2006, que distingue trabalhos originais da autoria de professores. A última «aventura» nesta área é a colecção americana «Popular Culture and Philosophy» (os autores, sob a coordenação do catedrático W. Irwin, são maioritariamente professores universitários de filosofia), cujas obras relacionam a filosofia não apenas com o cinema, mas também com as séries de televisão, a banda desenhada, a literatura ou a música. Alguns dos mais recentes livros desta colecção têm os títulos sugestivos de A família Soprano e a filosofia (Mato, logo existo), Seinfeld e a filosofia, Super-heróis e a filosofia, Os Simpsons e a filosofia, Harry Potter e a filosofia ou O Hip-Hop e a filosofia...
O que Sócrates diria a Woody Allen é essencialmente uma iniciação à ética. A maior parte dos temas/problemas pertence ao património perene da filosofia: o amor, a morte, a felicidade, a racionalidade, o mal, a acrasia, o acaso, a formação do gosto moral, entre outros. Mas há também teorias filosóficas que são convocadas, ilustradas e analisadas de modo por vezes surpreeendente. A alegoria da caverna de Platão, a hipótese do génio maligno de Descartes e a máquina de experiências de Robert Nozick são disso exemplo. Quanto aos 25 filmes seleccionados pelo autor, importa dizer duas coisas. A primeira é que o principal critério de escolha foi a sua relevância filosófica, e só depois a sua qualidade estética. A segunda é que, apesar disso, o autor nos presenteia com uma criteriosa selecção de filmes, desde clássicos a filmes mais recentes, que têm o condão de criar em nós, leitores, uma fascinante «reminiscência» cinematográfica. Além disso, desperta-nos um renovado interesse por filmes já vistos e quase esquecidos ou, ainda, por aqueles filmes nunca antes vistos cuja vontade de ver já tinha sido esquecida. A título de exemplo: Casablanca, Blade Runner, Citizen Kane, Desafio Total, Há Lodo no Cais, Matrix, Laranja Mecânica, Hannah e as suas Irmãs, Truman Show, O Efeito Mariposa, Dr. Estranho Amor, Parque Jurássico, etc., etc.
O que Sócrates diria a Woody Allen pode ser uma autêntica lufada de ar fresco para os professores de filosofia. A sua leitura constituirá, decerto, uma brainstorming fascinante e imprevisível, um laboratório sempre renovado de ideias e estratégias inesgotáveis. Imagine-se, por exemplo, esta espécie de trailer filosófico: como distinguir a realidade da ilusão? Será possível que um ser mau e poderoso me esteja a fazer sentir e pensar que é real o que, afinal, não passa de uma mentira perversa? Uma sugestão para os alunos: coloquem-se no papel de Neo e Truman e… pensem!
O que Sócrates diria a Woody Allen é um desafio que coloca frente a frente o mais antigo dos saberes com a mais recente das artes. Atreva-se e aceite-o: take the red pill…
boa noite stor não encontrei aquilo do robert no seu site, se pudesse me dar o link agratecia :D. não cheguei a desejar-lhe um feliz natal por isso stor, UM FELIZ NATAL E UM BOM ANO NOVO :)
ResponderEliminarBom Natal e Bom Ano também para ti, Bianca. Mandei-te um mail na altura com o link, mas deixo aqui outra vez. Vai a
ResponderEliminarhttp://saladecinemaesmtg.blogspot.com/
Bjs
Olá
ResponderEliminarDesafio aceite. Vou já oferecê-lo a mim própria, pelo Natal. :)
Ontem comprei o "Zelig", na FNAC. Só o vi uma vez, há 30 anos. Estou desejosa de o rever para confirmar, ou não, a imagem fantástica com que fiquei em jovem.
Ontem deu um muito interessante na tv: A verdade e só a verdade. Uma história sobre a importância dos princípios e a capacidade que (só) alguns de nós têm para os compreender e lutar por eles.
Se já não nos "virmos", Bom Natal para si.
Joana
Olá Joana
ResponderEliminarZelig, Manhattan e Stardust Memories são os meus filmes preferidos de Woody Allen. Penso que Zelig é uma obra prima que não foi suficientemente reconhecida.
Quanto ao filme na tv, deixou-me curioso. Vou tentar descobri-lo.
Ainda quanto ao Woody Allen, há um livro interessantíssimo que pertence a uma colecção invulgar. Vou fazer um post sobre ele para si e para todos os que gostam de filosofia e do cinema de Woody Allen.
Bom Natal e um excelente 2011 também para si.
Obrigada.Fico a aguardar.
ResponderEliminarQue seja um 2011 especial para cinéfilos. :-)
Joana