«Correio da Manhã», 7/9/08. Reportagem sobre o abandono escolar e o insucesso. Vejamos como dois jovens entrevistados explicam o seu insucesso escolar.
João, 22 anos, família rica, já chumbou 4 vezes: «Os meus problemas começaram quando fui expulso do colégio. Tive que sair porque não podiam ter alguém como eu a perturbar as aulas». João padece de uma doença de foro neurológico chamada Síndrome de Tourette, que o leva a ter tiques motores e vocais involuntários que não consegue evitar (faz movimentos bruscos e grita na sala de aula, por exemplo).
Sofia, 17 anos, família pobre, já chumbou 3 vezes. Assume que andou «na balda» durante uns tempos e aponta como uma das causas as «más companhias».
Ambos justificam a sua conduta com factores exteriores à sua vontade: João com a doença, Sofia com as influências sociais.
A pergunta é: faz sentido responsabilizá-los pelo seu insucesso?
Mesmo que seja verdade aquilo que João e Sofia alegam, seria descabido uma pessoa responsabilizá-los argumentando que foi desde muito cedo habituada a pensar que somos sempre responsáveis pelo que fazemos e que, portanto, não conseguimos evitar acreditar que todos, incluindo o João e a Sofia, somos sempre responsáveis pelo que fazemos?
ResponderEliminarNo caso da Sofia é, no mínimo, discutível a impossibilidade de a responsabilizar. Diferentemente, o João não pode ser responsabilizado por um comportamento compulsivo/patológico e, por isso mesmo, não intencional nem consciente.
ResponderEliminarCaro Anónimo das 19:26:
ResponderEliminarTambém penso que os dois casos são diferentes. Depreendo que considere que as influências sociais referidas pela Sofia não terão a mesma força que as condicionantes alegadas pelo João. Se é esse o caso, estamos de acordo.
Aires:
Tive dificuldade em perceber a tua posição. Podes reformulá-la?
Um abraço a ambos
No caso do João, como fora dito anteriormente, penso que se torna indiscutível o insucesso escolar resultante da sua doença, cujos efeitos ele não consegue evitar, mesmo que assim o queira. Já com a Sofia a pergunta responde-se consoante a quem é dirigida. De um ponto de vista de alguém que defenda o libertismo a responsabilidade dos seus actos é não mais do que da pessoa que os cometeu, podendo então a Sofia, apesar das más companhias com que andava e do seu histórico de crescer num seio pobre, ter escolhido diferentes opções, contornando o insucesso escolar. Caso a pergunta fosse dirigida a um defensor do Determinismo Radical, responderia certamente que todos os actos que a Sofia cometera foram resultantes dos aspectos e vivencias que presenciou durante a sua vida, sendo então a responsabilidade dos mesmos não atribuída à Sofia, mas às circunstâncias que ela vivera.
ResponderEliminarObrigado pela tua participação neste forum filosófico, Pedro. E o que pensas tu, agora que já conheces as teses que estudámos nas aulas de filosofia?
ResponderEliminarUm abraço para ti.
Café, não defendi qualquer posição, apenas perguntei (sim, escrevi um pouco à pressa e as coisas não ficaram suficientemente claras) se podemos todos nós, que julgamos o comportamento do João e da Sofia, estar determinados a responsabilizá-los pelo que fizeram, independentemente de eles serem realmente responsáveis por isso.
ResponderEliminarÉ que, se o determinismo radical for verdadeiro, então talvez não possamos mesmo deixar de os responsabilizar (ou, pode também ser o caso, de estarmos determinados a não os responsabilizar).
Olá, outra vez
ResponderEliminarA questão do Aires é muito curiosa. Nós estamos tão determinados a responsabilizá-los ,independentemente da dificuldades que temos em justificar inequivocamente a liberdade, como eles estão a agir determinados pelas acadeias causais que motivam e explicam as sua acções. Não sei se foi isto que quis dizer.
Não poderemos dizer a nosso favor que esta "alucinação permanente" é pouco plausível? :)
Cumprimentos da anónima das 19:26, vulgo Joana
Olá de novo
ResponderEliminarO Fernando Savater conta algures esta anedota deliciosa. Um indivíduo que foi apanhado a roubar é levado perante o juiz. Quando este lhe pergunta o que tem a dizer em sua defesa, ele responde:
- Meretíssimo, eu não devo ser responsabilizado pelo meu acto. Acredito que tudo o que fazemos é determinado por cadeias causais que nos levam a agir desse modo. Por isso, acho que deve deixar-me ir embora.
Responde o juiz:
- É curioso: eu penso exactamente como o senhor. Também estou convencido de que tudo o que fazemos é determinado. Por isso mesmo, não posso deixar de fazer o que vou fazer, ou seja, mandá-lo para a cadeia.
Abraço