Fotografias de Susana Paiva
«Por que havemos
de querer a todo o custo constranger o universo conferindo-lhe esta ou aquela
forma?», perguntou um dia Neuville. «Eu estou agora a observar desenhos que me
enviou, os que representam os ramos das árvores fruteiras presos aos muros e
orientados de tal modo que em breve os cobrirão inteiramente. Talvez me considere
severo, mais uma vez. Mas por quê torturar as árvores, como o senhor Le Nôtre
maltrata os jardins? As antigas árvores fruteiras não produziam em abundância,
quando as deixava em liberdade? O mundo não é bonito em si, sem que tenhamos
necessidade de intervir tão violentamente? Aceito que seja dever do homem
ajudar o mundo a reproduzir-se, mas não dominando-o, limitando-o, como o senhor
diz e mostra fazer. Considero que as árvores alinhadas, podadas em ponta,
morrem. Só persiste o que cresce ao sabor do acaso.
«A
cultura em latadas permite que as árvores ganhem em produtividade», respondeu o
jardineiro; «mas também me agrada pensar que, um dia, a natureza acabará por
cobrir a totalidade dos muros. No Verão, a pedra far-se-á vegetal e, no
Inverno, o vegetal tornar-se-á pedra. Apraz-me a ideia de que, unindo-os, crio
um novo universo em que o tempo é mais lento e a solidão menos intensa. Um
mundo fechado em que, no entanto, os horizontes se esbatem. Um novo território
até então ignorado pelos homens, onde será bom pensar, caminhar e viver.
RICHAUD, Frédéric, O Jardineiro do Rei, Lisboa, Temas &
Debates, 2001, pág. 81
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