Van Gogh, A Sesta, 1890 |
Vou contar-vos uma deliciosa anedota,
baseada num facto real, que tem a ver com o historiador Alexandre Herculano. Quando
perguntaram à velha criada uma opinião sobre o dia a dia do seu célebre patrão,
entretanto falecido, terá respondido assim: “O senhor Herculano era um grande preguiçoso:
passava os dias a ler e a escrever. Não fazia nada”.
Lembrei-me dela a propósito dos cortes
incompreensíveis nas bolsas à investigação científica anunciados pelo governo.
Mais ainda do que os cortes em si, o que mais me choca são alguns dos
argumentos utilizados. Já alguém disse que estas medidas representam um
retrocesso de mais de uma década. Pois bem, a avaliar pelo que alguns
responsáveis do governo têm dito (ver aqui), a argumentação recupera pontos de
vista muito populares no séc. XIX.
Para além do argumento do “conforto”
associado à “preguiça”, outra verdadeira pérola é a defesa da utilidade prática
do conhecimento. Mas quanto a isso não vou perder muito tempo. Apoiando-me num
forte argumento de autoridade, recordarei apenas o que afirmou Peter Higgs, o
“pai” do bosão de Higgs, conhecido popularmente como “partícula de Deus”.
Interrogado sobre as implicações práticas da descoberta, respondeu deste modo:
“Não temos a menor ideia do que fazer com o bosão” e “ainda não
sei como isso pode ser aplicado a qualquer coisa útil” (ver declarações aqui).
Não há que enganar, a velha criada de
Alexandre Herculano é quem tinha razão: são uns preguiçosos, passam os dias a
ler, a escrever e a estudar. Uns inúteis, portanto.
P.S.- Sobre este assunto, veja-se o
excelente artigo de Porfírio Silva aqui.
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