Henriette de Lemos Herz |
Immanuel Kant |
Hoje, Dia Mundial da Filosofia, recupero um dos textos que me deu mais gozo escrever, publicado no meu primeiro livro. O texto inspira-se no Werther, de Goethe, e lendo-o percebe-se por quê. Esta re-visitação é dedicada à minha filha Maria Miguel, que sabe que nada existe de inconsistente em ser-se simultaneamente romântica e deontologista.
Correspondência Imaginária
entre
Immanuel Kant e Henriette de Lemos Herz
(in O Prazer e o Dever. Variações em torno da
moral Kantiana, Portimão, 1999, pp 57-75)
AO LEITOR
Reuni cuidadosamente tudo quanto
pude encontrar sobre a amizade entre Immanuel Kant e Henriette de Lemos Herz e,
expondo-o ante vós, estou convencido de que me agradecereis.
O distinto filósofo é de todos
conhecido. O mesmo não se passa, porém, em relação àquela com a qual manteve a
correspondência que aqui se torna pública. Em virtude desse facto, julgo ser
indispensável apresentá-la ao leitor, ainda que em breves palavras.(1)
Henriette de Lemos Herz nasceu em
Berlim em 1764, numa abastada família judia que, fugindo da Inquisição,
emigrara de Portugal. A extraordinária curiosidade que a caracterizava,
justamente enaltecida por quantos com ela mais de perto privaram, apenas era
superada pela inultrapassável beleza com que a Natureza a brindara, facto que
lhe valeu, aliás, o epíteto de “Musa Trágica”. Tinha uma aptidão invulgar para
as Línguas: dominava o Português, o Alemão, o Hebraico, o Grego, o Latim, o
Francês, o Inglês, o Italiano e o Sânscrito. Casou, ainda nova, com o médico
Marcus Herz, um dos alunos predilectos de Kant e seu confidente intelectual.
Fundou, em sua casa, o primeiro e mais importante salão literário de Berlim, de
que foi a principal dinamizadora. O seu salão obteve uma enorme projecção, não
só em Berlim, como também fora da cidade. Tal facto tem a ver com a
circunstância de se ter tornado num novo ponto de encontro, tanto para judeus e
cristãos, como para homens e mulheres, o que constituiu uma autêntica novidade
na vida social de então. Também nas ideias dominantes o salão primava pelo
eclectismo, dada a coexistência dos ideais iluministas com o movimento Romântico
emergente na Alemanha de então. De entre as personalidades que frequentavam
habitualmente o salão literário de Henriette de Lemos, destacam-se os nomes de
Schelling, Fichte, Mme de Stäel, Jean Paul e Schleiermacher, entre outros.
Influenciada pelo Romantismo, leu
apaixonadamente o Werther, de Goethe,
que a marcaria para toda a vida. Escreveu um livro de memórias sobre o salão
por si criado, cujo título é Berliner
Salon (Salão Berlinense).
Henriette de Lemos Herz morreu, já
viúva, em 1847.
CORRESPONDÊNCIA
Berlim,
11 de Maio de 1785
Exmo. Sr. Professor Immanuel Kant:
Não é fácil dizer-vos com clareza o
que sinto neste preciso momento em que a vós me dirijo. O meu coração impele-me
a escrever-vos, enquanto a voz da consciência me censura pelo atrevimento.
Sabeis decerto a benéfica, e nunca demasiadamente enaltecida, influência que
exerceis nesta casa: há muito que sois o guia espiritual do meu querido Marcus.
Constitui a vossa filosofia a omnipresente auréola que paira sobre os nossos
pensamentos, qual excelsa referência, nas conversas que entre nós travamos. Mas
é precisamente a vossa invejável
sabedoria que se instalou, entre mim e o meu marido. Marcus não cessa de vos
citar. Fala de vós com um entusiasmo tal que me constrange! E são tantas as
coisas que o meu coração não entende ainda! Marcus é tão sereno no falar, tão
racional e seguro quando analisa uma teoria ou critica um dos meus “deliciosos
excessos juvenis”, como ele gosta de dizer. (Sabeis decerto que, não obstante o
amor que nos une, mais de quinze anos nos separam...) O que eu não daria para
poder vazar a serenidade inabalável das suas convicções na irrequietude
romântica dos meus sentimentos! Por isso vos rogo, meu bom Professor: permiti
que a curiosidade que em mim lateja se faça pensamento, que o desenfreado
desejo de entender ceda lugar à maturidade própria de quem, para além de saber, se compraz na gratificante
sensação de também compreender.
Sabemos que foi recentemente
publicada uma obra vossa, e de que Marcus, pese embora não a conhecer
directamente (o nosso livreiro aqui em Berlim não conseguiu ainda
disponibilizá-la...), a ela se refere com inexcedível entusiasmo. Refiro-me,
naturalmente, à Fundamentação da Metafísica dos Costumes. Será ousadia da minha
parte solicitar-vos uma carta onde o teor dessa vossa obra seja nela explicado,
preferencialmente de uma forma resumida?
A bondade do vosso coração, de que
sei não haver razões para duvidar, dá-me esperanças de ver concedido este meu
caprichoso pedido.
Despeço-me com admiração,
Henriette de Lemos Herz
Post
scriptum: Marcus não deverá saber desta minha iniciativa. Pretendo
fazer-lhe uma surpresa. Por uma vez que seja, ser eu a dar-lhe conhecimento
pormenorizado de uma obra do venerado mestre — eis o que não poderá acontecer
sem o consentimento cúmplice do seu querido Professor. Posso contar com a vossa
discrição, não é verdade?
#
Königsberg,
15 de Maio de 1785
Minha
Digníssima Senhora:
A vossa missiva despertou em mim
tanta surpresa quanto agrado. Para ser totalmente sincero, devo confessar-vos
que o meu fraco e idoso coração se sentiu algo emocionado, e que a tal frémito
inusitado não terá sido de todo estranha uma pontinha do vil orgulho...
Haviam-me chegado notícias da extraordinária beleza da eleita do coração do meu
querido amigo Marcus. Agora, é pela vossa delicada mão que fico a saber que
também a sua alma aspira à beleza, a nobre beleza que só alguns espíritos
buscam, precisamente aqueles para quem o “Dever,
nome grande e sublime”, constitui a
palavra mágica que nada promete e tudo exige!
Quanto ao que me pedis, dir-vos-ei
que, quer a minha enorme vontade, quer o meu escasso talento, estarão irmanados
no objectivo de tornar claras, tanto quanto possível, as teses fundamentais da
obra a que vos referis. Para facilitar eventuais referências, os “resumos” da
obra surgirão em separado. Quando o texto for escrito em itálico, tal significa que se trata de uma citação. Talvez um dia
(quem sabe?) o estudo desta minha obra venha a ser sugerido aos jovens
candidatos à Universidade...
Seja como for, é motivo bastante o
vosso generoso pedido. O entusiasmo que o anima é de tal modo louvável, que em
mim tão simpático pedido se transformou, de imediato, na mais urgente das
ordens! Passemos, então, à obra.
A Fundamentação da Metafísica dos
Costumes é constituída por três secções e um prefácio. O objectivo da obra é “a busca e fixação do princípio supremo da
moralidade”. A tese principal da
obra é a seguinte: a autonomia da
vontade é o princípio supremo da moralidade. Uma vez fornecidos estes
esclarecimentos prévios indispensáveis, apresentarei de seguida o
Resumo da primeira secção
A obra começa com a defesa da tese
segundo a qual nada, a não ser uma “boa vontade”, pode ser considerado
bom sem qualquer limitação. Porquê? Porque todos os “talentos do espírito”,
“qualidades do temperamento” e “dons
da fortuna” não são bons em si mesmos, porque estão dependentes do modo
como forem utilizados, ou seja, apenas serão bons se estiverem ao serviço de
uma vontade boa. Mas o que faz com que uma vontade possa ser considerada boa? A
vontade é boa em função do querer, não dos resultados. O critério é a intenção, não os efeitos, sejam eles quais forem.
Pode comparar-se a boa vontade a uma “jóia”:
vale por si mesma, independentemente da utilidade. Como se explica, então, a
tendência natural do ser humano para a felicidade? A busca da felicidade é uma
tendência natural, não um objectivo racional. O instinto busca a felicidade, a razão a dignidade. O mais importante não é ser
feliz, é sermos dignos da felicidade. Esse é o sentido mais nobre da existência
humana. Ora, se a vontade, para ser boa, se sobrepõe ao prazer, fá-lo em nome
de quê? Eis a resposta: em nome do Dever.
Se analisadas em função da relação que estabelecem com o dever, as acções podem
ser consideradas “contrárias ao dever”, “conforme ao dever” e “por
dever”. Apenas as acções realizadas por puro dever são acções morais.
Mas, afinal, o que é o dever? “Dever é a
necessidade de uma acção por respeito à lei”. Mas que lei é essa? Uma vez
que colocámos de parte todos os estímulos, só pode ser uma lei universal das
acções humanas em geral, ou seja, “devo
proceder sempre de maneira que eu possa querer também que a minha máxima se
torne lei universal”. Se isso não for possível, ou seja, se a máxima não
puder ser generalizada, devemos rejeitá-la. Este princípio funciona, mesmo para
o mais comum dos seres humanos, como um “padrão” ou “bússola”, ajudando-o a
distinguir as acções boas das acções más, nos casos em que tal dúvida se lhe
coloque.
Eis o “resumo” da primeira secção da
minha obra. Peço-vos desculpa pelo estilo pouco académico, mas tal se deve ao
facto de ter pretendido não ser demasiado fastidioso. Para terminar, tenho a
ousadia de lhe lançar um repto: importar-se-ia a senhora de se dar ao trabalho
de avaliar criticamente as minhas teses? Como sabeis, as minhas teses
filosóficas são habitualmente discutidas no meio académico; tal circunstância
deixa-me, naturalmente, muito orgulhoso. Mas acontece, por vezes (e só agora o
confesso...), ser o meu espírito, nos seus momentos diletantes, confrontado com
a seguinte pergunta: que valor terão as minhas teses filosóficas, se encaradas
do ponto de vista de uma bela e culta mulher?
Aguardo com impaciência o vosso
comentário.
Respeitosos cumprimentos,
Immanuel Kant
P.S.-
Podeis tranquilizar-vos: o vosso pedido de sigilo será naturalmente respeitado.
#
Berlim,
19 de Maio de 1785
Caro
Professor Kant:
Cada vez compreendo melhor a
inultrapassável admiração que o meu marido nutre por si. Que correcção exemplar
a sua, ao ter-me respondido sem demora! E eu bem sei que o Professor é um homem
bastante ocupado, o que me deixa ainda mais sensibilizada. Quanto ao que
classifica de “estilo pouco académico”,
não vislumbro razões para dele se penitenciar. Antes pelo contrário, sou eu que
lhe agradeço o esclarecedor resumo que teve a simpatia de elaborar para mim. De
resto, solicito-lhe autorização para utilizar, nesta nossa correspondência, um
estilo menos elaborado e mais próximo da linguagem corrente. Espero que mo
conceda.
Foi com grande alívio que li, no
final da sua carta, o convite que me endereçou para que comentasse as suas
teses. Tal facto deixa-me mais à vontade, uma vez que, confesso-o desde já, era
minha intenção fazê-lo, mesmo que tal convite não me tivesse sido formulado...
É que eu sou muito curiosa e opinativa, sabia? Como adoro discutir ideias e não
me coíbo de emitir opiniões próprias, Marcus costuma dizer, referindo-se à
minha ascendência portuguesa, que tal se deve à “fogosidade típica dos
latinos”. Ora, sabendo eu que é um incansável defensor do pensamento livre e
autónomo, sinto-me plenamente à vontade para avaliar as suas teses de um ponto
de vista pessoal, até porque, como o próprio Professor defende, a noção do que
é certo e errado existe em todo o ser humano e não apenas nos filósofos, não é
verdade? Portanto...
Quanto às teses da obra, vou começar
por lhe dizer o que mais me agradou. O aspecto mais digno de louvor é,
precisamente, o facto de o Professor defender que todo o ser humano possui um
sentido moral das coisas. Fiquei muito satisfeita ao ler isso. Na prática,
significa que todo o ser humano pode ser digno, devendo ser julgado pelos seus
actos, independentemente do sexo, raça, classe social ou capacidade económica. Que
agradável não seria o mundo, se toda a gente pensasse assim! As pessoas não
mais seriam humilhadas e desvalorizadas com base em discriminações absurdas e
injustas. Infelizmente, tal não acontece ainda, e o Professor sabe bem disso.
Quantas mulheres não sentiram já que as suas opiniões não são levadas tão a
sério apenas pelo facto de serem mulheres e não homens? Será que um ponto de
vista muda de valor quando muda o sexo da pessoa que o defende? E a raça: que
tem a cor da pele a ver com a dignidade da pessoa? E será que o mais rico é
necessariamente mais justo? Não acontece por vezes exactamente o contrário?
Quanto à classe social: nascer em berço de ouro significará, automaticamente,
que tal criança virá a ser melhor pessoa que aquele que nasceu pobre e tem de
lutar pela sobrevivência? Admiro a sua coragem, Professor, ao defender pontos
de vista que contrariam tão frontalmente preconceitos tão fortemente
enraizados. Realmente, o mais importante é a pessoa possuir uma vontade forte e
um bom íntimo. Tudo o resto é secundário. Não sei se a expressão estará
adequada, mas apetece-me dizer que o Professor, ao defender que ninguém precisa
que os outros lhe digam o que está certo ou errado, é um autêntico
“democratizador” da moral. Felicito-o por isso!
Outro aspecto que me agradou
particularmente foi a perspicaz denúncia que faz da hipocrisia. Todos sabemos
que há por aí muitos “ilustres” com fama de virtuosos e amigos dos outros que,
afinal, não passam de autênticos hipócritas, que se aproveitam da desgraça alheia
para promoverem uma falsa imagem de generosidade. Ainda bem que os desmascarou,
colocando as coisas no seu devido lugar.
Mas, deixe que lhe diga, há aspectos
na sua tese com os quais não concordo mesmo nada. O primeiro é o seguinte: o
senhor fala tanto do dever de sermos dignos, mas parece esquecer-se de que nós,
sem o sonho da felicidade, não somos nada. Ao ler a sua carta, parece-me que
nela existe prazer a menos e dever a mais! Percebe o que eu quero dizer, não é
verdade? Bem sei que o Professor é uma pessoa metódica e com um enorme sentido
de responsabilidade. O meu marido está sempre a apresentá-lo como exemplo. Ele,
nesse aspecto, é muito parecido consigo: o dever vem sempre em primeiro lugar.
São ambos tão alemães...
Eu não sou nada assim. Não é que
seja irresponsável ou leviana (por favor, não me interprete mal!). Há quem diga
que em nós, mulheres latinas, coexistem a dedicação e a irreverência, a razão
que serena o espírito com a paixão que arrepia o corpo! Vocês veneram o dever
-e nós entendemos isso. Mas, quando nós, mulheres, falamos de paixão, será que
vocês sabem — realmente — do
que estamos a falar?
Quando se trata do Amor (não o amor à
humanidade a que o Professor se refere, mas ao Amor Paixão que toda a mulher
sabe o que é...), quando é disso que falamos, dizia eu, temo que as suas
brilhantes análises nos possam ajudar muito pouco. Quando é de Amor que se
fala, é preciso vivê-lo, antes de mais, e isso é coisa que qualquer jovem
adolescente faz de modo intuitivo e espontâneo, ainda que se trate, apenas, de
um sonho inventado, e não de uma vivência real. Surpreendido, Professor? Muito
bem: deixo-o, então, com um poema de que gosto particularmente. Foi escrito
pela Ana e pela Tânia, duas jovens portuguesas, quando apenas tinham 15 anos, e
tem por título À noite. Ei-lo:
Esta
noite,
enlouqueceste-me
os sentidos,
beijaste-me
com magia,
e
com teus lábios humedecidos.
Esta
noite,
bebeste-me
com prazer
água
doce, fizeste-me mulher,
contigo
deixei de ser criança.
Esta
noite,
seduziste-me
com o teu doce movimento,
dancei
contigo ao sabor da brisa e do vento.
Quis
viver mais uma paixão.
Amanhã,
tudo
será esquecido,
a
tua água, o teu lábio humedecido,
o
teu beijo, o teu movimento sentido,
a
tua mão na minha.(2)
Saberia o Professor como
responder-lhes?
Saudações desta berlinense com
sangue português.
Henriette de Lemos H.
#
Königsberg,
25 de Maio de 1785
Exma.
Senhora:
Peço desculpa por apenas hoje
responder à sua carta, mas acontece que, para além dos afazeres do costume, tenho
andado um pouco adoentado. Quanto à minha obra que me pediu que resumisse,
passarei de imediato à súmula da segunda secção da mesma.
Resumo da segunda secção
Quando indagamos sobre a fonte das
nossas regras morais, é forçoso reconhecer que a moralidade não pode ser
retirada de exemplos empíricos, uma vez que não lida com “o que acontece”, mas com “o
que deve acontecer”. Por isso, é de todo irrelevante que, em termos morais,
se não possam encontrar provas, nem de uma acção praticada por puro dever, nem
de uma pessoa absolutamente santa. Uma vez que as leis morais, como já víramos,
devem valer para todos os seres racionais, devem ser deduzidas do conceito
universal de ser racional, isto é, absolutamente a priori. Assim, ao analisarmos a razão humana no seu uso prático,
damo-nos conta de que todos os imperativos se exprimem pelo verbo “dever”. “Eles dizem que seria bom praticar ou deixar de praticar qualquer
coisa, mas dizem-no a uma vontade que nem sempre faz qualquer coisa só porque a
razão lhe indica que seria bom fazê-la.” É como se a vontade se encontrasse
numa “encruzilhada”: a razão indica-lhe o que é bom, a sensibilidade apela para o agradável.
Deste modo, todos os imperativos ordenam qualquer coisa, ou hipotética ou
categoricamente. O imperativo é hipotético quando o que ordena é bom apenas
para qualquer outra coisa; é categórico quando o que ordena se impõe como bom
em si mesmo. Ou seja: enquanto que o imperativo hipotético é condicional,
o categórico é incondicionado. É por isso que apenas este é, no sentido rigoroso
do termo, o “imperativo da moralidade”.
Como se pretende que seja válido para todas as acções em geral, a sua fórmula
terá de ser absolutamente “formal”,
isto é, vazia de conteúdo, como acontece com as fórmulas matemáticas. O
imperativo categórico ou lei moral não nos diz o que fazer, mas apenas como
agir. O imperativo categórico
pode exprimir-se assim: “Age apenas segundo uma máxima tal que
possas ao mesmo tempo querer que ela se torne lei universal.”
Do imperativo podemos deduzir os princípios da vontade, que são três: o
princípio da universalidade (já
expresso na formulação do imperativo acima representada), o princípio da finalidade (“Age
de tal maneira que uses a humanidade, tanto na tua pessoa como na pessoa de
qualquer outro, sempre e simultaneamente como fim e nunca como meio”) e o princípio da autonomia (a “vontade de todo o ser racional como vontade
legisladora universal”). Esta ambição moral do ser humano permite falar num
“Reino dos Fins” -o ideal moral- em
que todos os seus membros se tratem a si mesmos e aos outros nunca como meio e
sempre como fim. Ao agir em função de quaisquer outros motivos que não o puro
respeito pela lei moral, fá-lo a vontade em nome do princípio da Heteronomia, que se constitui, desse
modo, como a fonte de todos os princípios ilegítimos da moralidade. E assim se
atinge finalmente o objectivo principal da obra: a fixação do princípio supremo da moralidade, que é,
portanto, a autonomia da vontade.
Espero sinceramente que este resumo
possa vir a merecer encómios semelhantes ao do primeiro. Quanto à curiosa
pergunta que me coloca no final da missiva, lastimo não poder responder-lhe de
imediato. Confesso que tais assuntos estão longe de constituir um dos meus
habituais temas de reflexão; além do mais, para um velho filósofo como eu,
habituado ao rigor dos conceitos e à clareza das exposições, a linguagem
utilizada no poema resulta para mim um tanto estranha, quiçá mesmo misteriosa.
Por tudo isto, rogo-lhe que me conceda mais algum tempo, para que o meu comentário
possa estar à altura de tão ilustre destinatária.
Sempre ao seu dispor,
Immanuel Kant
P.S.-
Por favor, não deixe de escrever no estilo que mais lhe aprouver. Aliás:
peço-lhe que o faça! Para quem, como eu, está tão habituado ao sóbrio e masculino
discurso racional, a expressividade simples e feminina do seu estilo constitui
uma autêntica lufada de ar fresco e primaveril!...
#
Berlim, 30 de Maio de 1785
Caro
Professor:
O seu resumo foi bastante
esclarecedor. Agradeço-lhe mais uma vez. Mas agora gostaria de comentar alguns
aspectos que dele retive. Não sei se serão os mais relevantes; são, pelo menos,
aqueles que mais me despertaram a atenção.
Começo por me referir à questão dos exemplos. Estou absolutamente de acordo
consigo: o facto de não haver ninguém perfeito não deve servir de desculpa para
não nos esforçarmos no sentido de sermos cada vez melhores pessoas.
Outro aspecto indiscutível é o princípio da universalidade. Como
poderíamos falar de moral se abríssemos excepções sempre que nos conviesse? Por
isso, quando dizemos que tal atitude é certa ou errada, devemos pensar de modo
imparcial.
Para além disso, gostei muito de o
ver defender que devemos encarar as pessoas como um fim em si mesmo e nunca como um meio. Fez-me lembrar uma situação
que presenciei há alguns dias numa rua central de Berlim. Um ilustre candidato
a burgomestre, por sinal nosso vizinho, exibia com descarado à vontade uma
surpreendente preocupação com os sem abrigo da cidade. Ora, sabendo eu que tal
pessoa, arrogante e ambiciosa como poucas, se distingue habitualmente pela
insensibilidade para com os outros, a pergunta que me ocorreu fazer-lhe foi a
seguinte: estará essa súbita “compaixão” ao serviço dos necessitados, ou será
que é a desgraça alheia que está a ser convenientemente utilizada para
conseguir concretizar as suas ambições? Acabei por não lhe fazer a pergunta,
naturalmente. Mas a dúvida tem decerto a ver com o que o Professor designa por “princípio da finalidade”: estariam os
sem-abrigo a ser encarados como um fim
em si mesmo ou como um simples meio
para atingir outros fins?
Quanto à defesa da autonomia, gostaria de lhe colocar
algumas questões. A primeira é a seguinte: a que se refere quando fala de
autonomia? Fiquei com a ideia de que, para si, apenas somos autónomos quando
nos submetemos à lei moral. Mas terá isso algum sentido? Não serão também os
sentimentos algo de fundamental para as pessoas? Imaginemos que eu, que estou
apaixonada, decido fazer o que o meu coração me diz para fazer; não será também
uma decisão autónoma? Num romance extraordinário que estou de momento a ler,
escrito pelo grande Goethe e intitulado Werther,
a personagem homónima, um jovem romântico e apaixonado, afirma a dada altura: “Trato o coração como se trata uma criança
doente, satisfazendo-lhe todos os caprichos.”(3)
Presumo que não estará de acordo.
Por isso lhe pergunto, meu bom Professor: não estará a transformar-se num
“escravo do dever”?
A sua leitora atenta,
Henriette de Lemos H.
#
Königsberg, 5 de
Junho de 1785
Exma.
Senhora:
A sua última missiva provocou em mim
algumas reflexões de cujos resultados lhe quero dar conta. Antes, porém, vou
apresentar o
Resumo da terceira secção
A descoberta da autonomia leva-nos à
ideia de liberdade, pois “que outra coisa pode ser (...) a liberdade da vontade senão
autonomia, i. e. a propriedade da vontade de ser lei para si mesma?”. Quer
isto dizer que podemos provar que somos livres? Não, apenas podemos dizer que a liberdade, enquanto mera ideia, é um pressuposto indispensável à moralidade.
Deste modo, o ser humano descobre-se como pertencente a dois mundos: o mundo
sensível, ou mundo dos fenómenos naturais, e o mundo inteligível, ou mundo das
vivências morais. Enquanto pertence ao mundo
sensível, o homem está submetido às leis naturais (Heteronomia); enquanto pertence ao mundo inteligível, o homem está sujeito às suas próprias leis (Autonomia). Será esta afirmação
contraditória? Não, uma vez que, embora aconteçam em simultâneo, estas duas
dimensões existem segundo perspectivas diferentes. Ou seja: “o conceito de mundo inteligível é portanto
apenas um ponto de vista que a razão se vê forçada a tomar fora dos fenómenos
para se pensar a si mesma como prática”. Nada de objectivo se pode dizer
sobre ele nem sobre a ideia de liberdade, uma vez que são ideias que
ultrapassam os nossos limites
naturais. Toda a investigação moral esbarra nesta impossibilidade; conceber
essa “inconcebilidade (...) é tudo o que,
com justiça, se pode exigir de uma filosofia que aspira a atingir, nos
princípios, os limites da razão humana.”
Tomei a liberdade de também lhe
enviar uma lista dos conceitos
fundamentais da Fundamentação da
Metafísica dos Costumes. Espero que tal lhe seja de utilidade na
sistematização das teses e argumentos principais da obra. Sei, como professor,
e por experiência própria, quão reconhecidos ficam os nossos alunos quando os
ajudamos desse modo, ou seja, dando-lhes “pistas” que os possam guiar e
orientar nos seus estudos. É nesse sentido que passo a indicar os conceitos
cuja clara e correcta compreensão é indispensável para uma leitura bem sucedida
da obra.
Os conceitos fundamentais são os seguintes: boa vontade, felicidade,
dignidade, dever, acções contrárias,
conforme e por dever, máxima e lei (na primeira secção); empírico,
a
priori, imperativo hipotético,
imperativo categórico, princípios da vontade -universalidade, finalidade e autonomia-,
heteronomia e Reino dos Fins (na segunda
secção); e, finalmente, os conceitos de
liberdade, mundo sensível, mundo inteligível e limites da razão (na terceira secção).
E assim fica “resumida”, tal como me
havia pedido, a Fundamentação da
Metafísica dos Costumes.
Quanto aos comentários que teve a
simpatia de fazer na sua última missiva, gostaria de a eles me referir de
seguida, uma vez que é minha convicção que da sua correcta explicitação pode
resultar uma melhor compreensão das teses por mim defendidas.
Pergunta-me a Senhora se eu não me
estarei a tornar num “escravo do dever”. A expressão é surpreendente, já que o
cumprimento do dever, do meu ponto de vista, nunca pode ser considerado uma
atitude servil. Antes pelo contrário: é o corajoso cumprimento do dever que faz
de nós pessoas livres! A Senhora parece esquecer que a submissão à lei moral é
um acto voluntário em relação a uma lei que impomos a nós próprios, e não a
aceitação coagida de uma regra imposta por outrem! Ou seja: “sou tanto mais livre quanto mais me submeto
à Lei”!
No que diz respeito aos sentimentos
de paixão que tanto elogia, vou-lhe dizer o que penso: neste caso, a palavra “escravatura”
tem todo o sentido! A paixão cega o homem e é uma gangrena para a razão, como
se fosse uma doença, com a particularidade de o doente não querer ser curado,
recusando submeter-se ao único princípio que poderia fazer essa cura. A paixão
tem prazer e satisfação na escravatura, e por isso eu penso que, no fundo,
ninguém deseja por si mesmo a paixão, do mesmo modo que nenhuma pessoa sensata
procura deliberadamente algo que a subjugue e da qual depois se não possa
libertar.
Vou seguir o seu exemplo e
despedir-me com uma pergunta: quem é que gostaria de se deixar acorrentar,
quando poderia ser livre?
Um homem que venera o Dever,
Immanuel Kant
#
Berlim,
11 de Junho de 1785
Caro
Professor:
Não se pode dizer que tenha ficado
surpreendida com o teor da sua última carta. Vendo bem, tudo o que afirmou não
deixa de ser coerente com a sua concepção de ser humano. Apesar disso, dei
comigo a pensar: como reagiria o Professor a algumas das posições que são
habitualmente defendidas no meu “Salão Literário”? É certo que nele participam
habitualmente fervorosos iluministas como o senhor, a começar por Marcus, meu
marido e seu discípulo. Mas não era a estes pontos de vista que eu me referia,
mas aos daqueles que, criticando o que consideram ser a excessiva importância
que os iluministas atribuem à razão, vêem na “lei do coração” o caminho
autêntico para a libertação do indivíduo. É por isso que gostam de chamar
“Romantismo” a este movimento que agora parece emergir.
Eu própria, confesso-o, estou
inclinada a pensar que o Professor valoriza excessivamente a razão, parecendo
“esquecer-se” dos sentimentos... O amor de um ser humano por outro é talvez a
experiência mais difícil para cada um de nós, o mais alto testemunho de nós
próprios, a obra suprema em face da qual todas as outras são apenas
preparações. Quando o Professor fala do ser humano, é sempre o ser racional em
geral que tem em mente, nunca as pessoas individuais e concretas, pessoas que
têm, para além da racionalidade, uma sensibilidade única que as faz sentir e
viver a vida de um modo nem sempre muito “lógico”. Quando diz “eu”, o senhor
quer dizer: “o meu cérebro”!
Mas nem toda a gente pensa assim.
Pessoas há que, se lhes perguntássemos: “quem és tu?”, talvez respondessem
Eu
sou a que no mundo anda perdida,
Eu
sou a que na vida não tem norte,
Sou
a irmã do Sonho, e desta sorte
Sou
a cruxificada... a dolorida...
Sombra
de névoa ténue e esvaecida,
E
que o destino amargo, triste e forte,
Impele
brutalmente para a morte!
Alma
de luto sempre incompreendida!...
Sou
aquela que passa e ninguém vê...
Sou
a que chamam triste sem o ser...
Sou
a que chora sem saber porquê...
Sou
talvez a visão que alguém sonhou,
Alguém
que veio ao mundo pra me ver
E
que nunca na vida me encontrou! (4)
Pense nisso, está bem?
Uma mulher que não esqueceu o Amor,
Henriette
#
Königsberg,
17 de Junho de 1785
Minha
jovem Senhora:
O desejo de ver compreendidas as
minhas ideias leva-me a, num derradeiro esforço, tentar anular as barreiras
que, nestes assuntos que temos vindo a discutir, parecem existir entre os
nossos pontos de vista.
Já alguém disse que as ideias apenas
ganham a consistência indispensável ao serem integrados no contexto histórico
que as viu nascer. Ora, quis o acaso que eu tenha publicado, há pouco mais de
um ano, um pequeno texto sobre as ideias fundamentais do nosso século, o
“século das Luzes”. Por isso, tomei a liberdade de lhe apresentar aqui, de modo
naturalmente abreviado, algumas das considerações mais importantes desse
pequeno texto, ao qual atribui o seguinte título:
Resposta à pergunta: que é o Iluminismo?
“O
Iluminismo é a saída do homem da sua menoridade de que ele próprio é culpado.
A menoridade é a incapacidade de se
servir do entendimento sem a orientação de outrem. Tal menoridade é por culpa própria se a sua causa não
reside na falta de entendimento, mas na falta de decisão e de coragem em se
servir de si mesmo sem a orientação de outrem. Sapere aude! Tem a coragem de te servires do teu próprio
entendimento! Eis a palavra de ordem do Iluminismo.
A preguiça e a cobardia são as
causas por que os homens (...) continuem, no entanto, de boa vontade menores
durante toda a vida; (...) É tão cómodo ser menor. Se eu tiver um livro que tem
entendimento por mim, um director espiritual que tem em minha vez consciência
moral, um médico que por mim decide da dieta, etc., então não preciso de eu
próprio me esforçar. (...) [Ora], para esta ilustração, nada mais se exige do
que a liberdade. (...) Mas agora ouço
gritar de todos os lados: não raciocines! Diz o oficial: não raciocines mas faz
exercícios! Diz o funcionário das Finanças: não raciocines, paga! E o Clérigo:
não raciocines, acredita! (...) Por toda a parte se depara com a restrição da
liberdade. (...)
Se, pois, se fizer a pergunta -Vivemos
nós agora numa época esclarecida?- a
resposta é: não. Mas vivemos numa época do Iluminismo.
Falta ainda muito para que os homens tomados em conjunto, da maneira como as
coisas agora estão, se encontrem já numa situação (...) de, em matéria de
religião, se servirem bem e com segurança do seu próprio entendimento, sem a
orientação de outrem. Temos apenas claros indícios de que se lhes abre agora o
campo em que podem actuar livremente, e diminuem pouco a pouco os obstáculos à
ilustração geral, ou à saída da menoridade de que são culpados. Assim
considerada, esta época é a época do Iluminismo”.(5)
Espero que a mensagem principal
tenha ficado clara: a tarefa fundamental do nosso tempo é libertar o Homem do
obscurantismo em que séculos de trevas o deixaram. E isso, minha jovem Senhora,
apenas se consegue através da Razão, não da Paixão!
Um iluminista convicto,
Immanuel Kant
#
Berlim,
23 de Junho de 1785
Caro
Professor:
Li atentamente o seu esclarecedor
texto sobre o Iluminismo, mas continuo a pensar que tal visão do Homem talvez
não faça já muito sentido. Eu julgo compreender o seu generoso esforço no
sentido de libertar os seres humanos daquilo a que chama a “menoridade”. A
intenção é realmente muito louvável. Mas eu pergunto: o preço a pagar não é
excessivamente elevado? Sobrevalorizar a razão à custa dos sentimentos: não
será isso muito radical? O Professor não admite a coexistência destas duas
coisas; quer a vitória de uma à custa do aniquilamento da outra! E eu, como
mulher, interrogo-me: quem é que pretende ser amada por dever?!
Para finalizar, há uma questão que
paira no meu espírito há muito tempo e que não resisto a colocar-lhe: as suas
ideias teriam sido as mesmas se, por hipótese, o Professor tivesse vivido, na
sua vida, uma grande paixão?
Embora se empenhe tanto em ajudar os
outros com as suas ideias, eu temo que um dia, ao analisar o que foi a sua
vida, acabe o Professor por ter de dizer para si mesmo:
Eu
tenho ideias e razões
Conheço
a cor dos argumentos
E
nunca chego aos corações.(6)
Henriette
P.S.- Por favor: não deixe de
responder à minha pergunta!
#
Berlim,
18 de Julho de 1785
Caro
Professor Kant:
A sua carta de 4 de Julho deixou-me
sem saber o que dizer. É esse (e apenas esse...), o motivo porque demorei tanto
a responder-lhe. Quero aproveitar para lhe agradecer, mais uma vez, o modo
pronto e esclarecedor como tratou as minhas dúvidas. Ao logo desta nossa
correspondência que agora finda, uma palavra, mais do que todas as outras, pode
ser considerada a “estrela polar” do Professor Kant: o Dever! Embora eu não
pense do mesmo modo, não posso deixar de reconhecer a minha admiração pela sua
coerência de ideias e generosidade de propósitos.
Para mim, meu caro Professor, a vida
não se pode reduzir ao cumprimento do dever, e não acredito que ela tenha
sentido sem o Amor! Será que penso assim por ser Mulher? Será que tal se deve
ao meu sangue Português? Não sei responder-lhe, naturalmente. O Professor é um
defensor convicto da liberdade; o mesmo acontece comigo. Mas será que falamos
da mesma coisa? Para si, ser livre é desprezar as inclinações naturais e seguir
o Dever. E eu, se a Natureza me tivesse concedido alma de poetisa, talvez
escrevesse:
Liberdade
Ai
que prazer
Não
cumprir um dever,
Ter
um livro para ler
E
não o fazer!
Ler
é maçada,
Estudar
é nada.
O
sol doira
Sem
literatura.
O
rio corre, bem ou mal,
Sem
edição original.
E a
brisa, essa,
De
tão naturalmente matinal,
Como
tem tempo não tem pressa...
Livros
são papéis pintados com tinta.
Estudar
é uma coisa em que está indistinta
A
distinção entre nada e coisa nenhuma.
Quanto
é melhor, quanto há bruma,
Esperar
por D. Sebastião,
Quer
venha ou não!
Grande
é a poesia, a bondade e as danças...
Mas
o melhor do mundo são as crianças,
Flores,
música, o luar, e o sol, que peca
Só
quando, em vez de criar, seca.
O
mais do que isto
É
Jesus Cristo,
Que
não sabia nada de finanças
Nem
consta que tivesse biblioteca... (7)
Até sempre, Professor Kant!
Henriette de Lemos
O EDITOR AO LEITOR
Porfiámos em recolher das pessoas
melhor informadas os pormenores mais exactos. Apesar dos nossos esforços,
contudo, não nos foi possível encontrar a célebre carta de Immanuel Kant a
Henriette de Lemos Herz, datada de 4 de Julho, onde se supõe que o filósofo
terá respondido à seguinte pergunta: “as
suas ideias teriam sido as mesmas se, por hipótese, o Professor tivesse vivido,
na sua vida, uma grande paixão?”
Infelizmente, e dado a carta ter
sido extraviada, talvez nunca venhamos a saber qual terá sido a resposta do filósofo
alemão a esta pergunta. Ficaremos sempre com essa dúvida. Talvez o Leitor, se
for dado ao prazer da resolução de enigmas, tente por si mesmo adivinhar qual
teria sido a resposta de Immanuel Kant...
Quanto a nós, Editor, diremos
apenas, parafraseando uma expressão tão do agrado do filósofo, que “o nosso
dever está cumprido!”.
Despedimo-nos, assim, do Leitor, com
a esperança de que esta correspondência que agora vê a luz do dia possa ter
contribuído para uma melhor compreensão do pensamento de Immanuel Kant, da sua
personalidade e, também, da época histórica que o viu nascer.
Quanto à questão de saber qual a
veracidade da correspondência aqui apresentada, apetece-nos responder do modo
como, provavelmente, o faria um poeta romântico: tudo o que foi aqui dito pode ser considerado absolutamente verdadeiro,
principalmente aquilo que, não tendo acontecido realmente, foi por mim
rigorosamente inventado...
O Editor
FIM
Notas
(1)- Devo a
“descoberta” deste bela e fascinante mulher de sangue português ao livro Antología de románticas alemanas,
editado por Ediciones Cátedra, de Madrid, em 1995. Todos os dados respeitantes
à vida e obra de Henriette de Lemos Herz foram dele retirados.
(2)- Este poema
foi escrito em conjunto pelas (então) alunas Ana Pedro e Tânia Silva
no âmbito (se a memória não me falha) de um trabalho do 10º ano na disciplina
de Português, coordenado pela Professora Ana Gonzaga. A sua inclusão neste
livro foi autorizada pelas jovens autoras, facto que aqui agradeço
publicamente.
(3)- Goethe, J.W., Werther, Lisboa, Guimarães Editores,
1993, pág. 16
(4)- Espanca,
Florbela, Sonetos, Bertrand Editora,
1978, pág. 39
(5)- Kant,
Immanuel, «Resposta à pergunta: que é o
Iluminismo?», in A Paz Perpétua e
Outros Opúsculos, Lisboa, Edições 70, s/d, pp. 11 a 17
(6)- Pessoa,
Fernando, Poesias Inéditas (1930-1935),
Lisboa, Edições Ática, s/d, pág. 67
(7)- Pessoa,
Fernando, Poesias, Lisboa, Edições
Ática, 1995, pp. 244/245
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