Ontem fui ver este filme e gostei. Não sendo extraordinário (muito
longe disso), é um filme agradável e particularmente adequado para uma sessão
de cinema familiar de fim de semana, como foi o caso. Trata-se de uma história
algo previsível, mas bem contada. Tem imagens fortes, a fotografia das cenas de
interiores é excelente e o guarda-roupa é verosímil.
Mas o mais interessante do filme é o facto de nos mostrar como foi
vivido o pesadelo do nazismo no dia a dia dos alemães. Mais propriamente, o
nazismo do ponto de vista de uma família alemã que com ele não se identificava.
Ou, como é referido no filme, por “pessoas que queriam continuar a comportar-se
como pessoas”. Neste aspecto, o filme faz lembrar “O Rapaz do Pijama às
Riscas”, em que o pior do nazismo é contado do ponto de vista da ingenuidade de
duas crianças, e também “A Vida é Bela”, onde um pai faz de tudo para que a
dolorosa realidade não perturbe a ingenuidade do seu filho. Também em “A
Rapariga que Roubava Livros” assistimos ao esforço para olharmos para o horror
do real de um ponto de vista protetor, de um lugar emocionalmente seguro, como
um abrigo. Ou uma cave.
Mas não há ilusões que perdurem eternamente, nem “pessoas que vivam
para sempre”, como afirma o narrador, a Morte. E, quanto a isso, o filme
mostra-nos que não é possível mantermo-nos para sempre afastados da realidade
que nos choca, ainda que nos esforcemos muito. Um dia ela bater-nos-á à porta,
robusta e incontornável, e não quererá saber se estamos, ou não, preparados
para a enfrentar.
Finalmente, o filme é também um elogio ao poder redentor das palavras
e da literatura. Nada de novo, claro, mas sempre emocionante para quem ama os
livros.
Tudo (ou quase) sobre o filme pode ser encontrado aqui.
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